Colecionar é Gestar Percepções
- Gabriela Pegorini

- 14 de out.
- 2 min de leitura
Nos últimos anos, o colecionismo passou do entendimento de um gesto individual — guiado pelo gosto ou pelo status — para uma atitude de participação ativa na cultura contemporânea. O colecionador de hoje atua como um curador de sentido, construindo narrativas que ajudam a compreender o presente. Ele não acumula objetos: articula discursos, conecta contextos e produz memória coletiva.

Em recente participação no excelente Seminário sobre o Mercado de Arte, realizado em São Paulo, o colecionismo foi tema de mesa-redonda. Observa-se que o número de instituições formadas a partir de coleções privadas vem crescendo. Isso impacta o olhar de curadores e agentes da arte que passam a também direcionar seus olhares para essas escolhas e seus desdobramentos. Quem gesta a narrativa consegue conduzir percepções.
Com a profissionalização do mercado em pauta e a complexidade dos acervos, a gestão de coleções torna-se uma dimensão estratégica. A coleção, entendida como um ativo cultural e financeiro, requer planejamento patrimonial e sucessório: a gestão permite organizar heranças, doações e até mesmo a criação de estruturas como Endowments que assegurem a continuidade do legado. Destinar isso é uma organização profissional.
Ao mesmo tempo, a gestão atua como uma curadoria contínua, mantendo coerência entre as aquisições e articulando um discurso consistente — quase como uma exposição permanente em evolução.
Em última instância, a gestão é o que transforma um conjunto de obras em um legado: uma narrativa viva que atravessa gerações e preserva, na arte, a visão de quem a construiu. Porque na arte de se relacionar, dominar a narrativa faz parte da estratégia.
Sobre o autor
Gabriela Pregorini atua na coordenação da experiência do projeto expositivo, sendo responsável pela articulação de relações institucionais com escolas da rede pública, agentes do mercado de arte, imprensa, associações, arquitetos, grupos especiais e a comunidade em geral. Seu trabalho está na construção de pontes entre a arte e os diversos públicos, promovendo acessibilidade, diálogo e engajamento significativo com a proposta curatorial.


Comentários